A pornografia tornou-se tão generalizada nos EUA que merece ser
tratada como uma “crise de saúde pública” a combater, tal como o tabaco ou o
álcool ao volante, defendem especialistas.
“A pornografia é, hoje,
a forma mais vulgarizada de educação sexual. Os estudos mostram que a idade
média com que um americano é exposto pela primeira vez a imagens pornográficas
está entre os 11 e os 14 anos e, acredite-me, não estamos a falar da Playboy do papá”, resumiu à AFP Gail Dines,
professora de sociologia e de estudos femininos no Wheelock College de Boston e
autora de livros sobre a matéria. “Essas imagens degradantes e misóginas são
moeda corrente e despojam os jovens do direito a uma sexualidade realmente sã.”
“É um sector com uma
influência considerável”, acrescentou Dines, falando numa conferência de
imprensa organizada quinta-feira na capital americana, Washington, antes do
arranque de uma cimeira – descrita como a primeira do género – sobre os
malefícios da pornografia. Nome da cimeira? “Aliança para acabar com a
exploração sexual 2014”.
Os sites pornográficos recebem mais visitas
mensais do que o Netflix (um popular site de visionamento de filmes e séries de
televisão, mediante uma subscrição paga), a Amazon e o Twitter juntos. Um terço
dos downloads são
pornografia. Existem 4,2 milhões de sites denominados “para adultos” na
Internet. Os dados foram avançados por Gail Dines, que é também a presidente do
grupo feminista Stop Porn Culture (“Para Acabar Com a Cultura Porno”).
A cimeira deste
fim-de-semana pretende demonstrar que a pornografia é uma questão complexa da
sociedade que deve ser encarada como um problema de saúde pública. Ela junta
investigadores, académicos, trabalhadores sociais, especialistas em problemas
de dependência, líderes religiosos e ex-profissionais da indústria
pornográfica, que gera milhões de dólares de receitas.
“A pornografia provoca
danos em relação aos quais não fazemos nada”, acusou Dawn Hawkins, directora da
Morality in Media, uma associação que faz campanha contra a pornografia desde
1962. “Inúmeros estudos mostram que a pornografia faz mal”, disse a jovem
activista. “Sabemos que quase todas as famílias americanas são tocadas pela
pornografia.”
Donny Pauling, antigo
produtor de filmes “para adultos” para a Playboy e para a Internet, deixou a indústria
em 2006: ele garante ter testemunhado os efeitos nocivos da pornografia nas
mulheres que colocava em frente da câmara.
Ele duvida por exemplo
que Miriam Weeks, uma estudante de 19 anos na prestigiada Duke University
(Carolina do Norte) que admitiu fazer filmes pornográficos para a Internet sob
o pseudónimo de Belle Knox, tenha “o controlo do seu destino”, como afirmou.
“Não acredito”, diz Pauling. “Recrutei mais de 500 raparigas para o sector e
nenhuma voltou para me agradecer.”
Mary Anne Layden, uma
especialista em violência sexual da Universidade da Pensilvânia, estima que a
pornografia foi um factor em todos os casos de abusos sexuais que ela tratou
enquanto psicoterapeuta. “Quanto mais cedo os rapazes conviverem com a
pornografia, mais susceptíveis se tornam à prática de actos sexuais não
consentidos. No caso das raparigas, quanto mais vêem, mais susceptíveis ficam
de vir a ser as vítimas”, diz.
Numa entrevista à
revista Rolling Stone no mês passado, Miriam Weeks confessa
que começou a ver filmes pornográficos aos 12 anos, e diz ter sido violada numa
festa de liceu.
t“É preciso dizer aos
jovens que a pornografia manipula-os”, defende Gail Dines. Layden, por sua vez,
espera que se as autoridades de saúde se interessarem pelo problema como uma
questão de saúde pública, “poderemos obter os resultados que tivemos em relação
ao tabagismo”.
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